terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Relembrando meus momentos com a Samy

Encontrei essa história antiga e deixo aqui registrada.

O ano de 1999 foi bem difícil para mim, perdi meu pai, fiquei muito deprimida. Em um sábado, minha filha, já muito preocupada com minha saúde insistiu para que fossemos visitar uma feira de filhotes de animais que estava acontecendo em minha cidade. E foi assim que conheci a Samy. A Samy é uma Akita gergelim (quase branca), parecia mais um ursinho, que chegou em meu apartamento com 2 meses de idade, muito curiosa, brincalhona e logo se adaptou com nossa chihuahua, Dominique, nossa Himalaia, Mimie e nossa querida Mitche uma gatinha sem raça definida que amamos muito.Conquistou a todos com sua meiguice e alegria, aprendeu rapidinho o nome que lhe demos e já tinha até direito de dormir em meu quarto, no tapetinho, quando a noite chegava. Passados três dias, a Samy apresentou diarréia com sangue e começou a vomitar. Ficou triste, parou de comer e beber água perdeu toda a alegria e me olhava de uma forma suplicante. Foram quatro semanas de hospitalização, medicamentos, exames, dieta especial, idas e vindas, injeções, lágrimas, noites sem dormir e finalmente conseguimos cura-la de algo parecido com parvovirose e nossa Samy retornou para casa feliz e muito bagunceira. Estávamos construindo nossa casa, e passou mais de um ano para nossa mudança acontecer e nesse período vivíamos todos em um apartamento bem pequeno. Adaptamos-nos e conseguimos conviver harmoniosamente (Três humanos adultos, dois cães e três gatos). A Samy tornou-se minha amiga inseparável, quando tinha minhas crises de depressão e acordava chorando, lá vinha ela devagarzinho, deitava a cabeça no meu joelho, lambia minha mão e ficava assim por horas até eu acalmar. Todos os dias, ela estava na janela na hora em que eu retornava do trabalho e de longe eu já ouvia o seu latido, porque ela sempre me via primeiro. Finalmente fomos para casa nova, seis vezes maior que nosso pequeno apartamento, com um pátio maravilhoso, 7oom2 de terreno, foi providencial, pois a essas alturas a Samy já estava grávida de um Akita muito parecido com ela. No dia em que ia acontecer o parto ela estava inquieta e muito carente. Acordei pela madrugada com um ganido no patamar da escadaria (ela estava tão grandona que já não conseguia subir ao 2ºandar) levantei, fui ao seu encontro, comecei a conversar com ela que me olhava e gania como se quisesse me dizer o que estava sentido. (Sempre que se machuca, ela tem o hábito de vir correndo até a mim, ganir e mostrar o machucado, é inacreditável, só vendo.) De repente colocou a cabeça em meu peito e deu o uivo mais dolorido que eu já ouvi e foi assim que nasceu o primeiro dos oito filhotes que ajudei ela ter. Destes, fiquei com três, dois machos, um branco chamado Kiko, um caramelo que chamei provisoriamente de tourinho, e que ficou para sempre e uma fêmea branca que dei o nome de Kelly. Eu e meus cinco cães passamos a ter uma relação muito especial, seção de carinho, momentos de altas conversas, passeios... Mas, a Samy era mais que uma companheira, era uma amiga que me ouvia, que não me deixava ficar triste, que estava sempre me convidando para brincar, passear, ou deitada e às vezes encostada a meus pés enquanto eu fazia os afazeres domésticos. Foi assim que apreendi com ela o supremo dom da paciência em esperar. Enfim, a Samy estava sempre muito atenta a minha rotina e se via eu pegar a chave do carro ficava enlouquecida, descontrolada, começava a pular em mim, morder meu calcanhar, e era sempre a primeira a entrar no carro. Essa é a minha Samy, com os olhos sempre atentos... Um dia percebi que a Samy mudou, andava encolhida, só levantava para fazer xixi e coco e quando eu pegava a escova para escová-la ela não deixava mais eu ficar como antes, alisando seu pelo macio. Foi quando começou os vômitos, e quando me dei conta ela estava já a cinco dias sem comer e beber. Foi um desespero, levamos para o hospital, fizemos todos os exames e a deixamos lá sozinha em um nicho 0,80 x 1,00, muito indignada, esperando os resultados dos exames e sendo medicada. O diagnóstico veio em dois dias, a Samy estava com falência renal. A Creatinina que deveria ser 1.2 estava em 25.0 e a uréia que deveria ser 45 estava 260. A Samy estava morrendo... Assim começou mais uma guerra de tortura, no hospital ela estava piorando, mesmo amarrada e com focinheira ela conseguia arrancar o soro. Quando eu chegava para visitá-la ela mal reagia, abanava lentamente o rabo, não me olhava direito e comecei a notar que ela estava ressentida por eu deixá-la sozinha naquele lugar e depois de uma semana nesta agonia me disseram que era preciso fazer a eutanásia. Ela estava sofrendo muito e já fazia 15 dias que não conseguia comer nem beber, não conseguia ficar em pé e sempre que tentava levantar ficava tonta e desmaiava. Mas, como poderia permitir tal ato? Como desistir assim de minha amiga e companheira sem pelo menos tentar retribuir o amor e a dedicação que ela sempre me devotou? E foi assim que decidi trazê-la para casa e eu mesma cuidar da saúde dela. Peguei toda a medicação injetável e apreendi a fazer o soro subcutâneo e me prontifiquei de levá-la ao hospital uma vez por semana para refazer os exames que me diria se ela estaria reagindo. Contando com a ajuda de meu esposo e minha filha que foram incansáveis, mais o carinho e as palavras de conforto da nossa dedicada e querida veterinária, Dra. Carla Koeche, começamos a tentar o impossível. Cheguei em casa com a Samy muito debilitada e com a ameaça de que ela só resistiria mais quatro dias, mas não podia perder a esperança. Forrei minha cama com tecido grosso e macio, deitei na cama e a coloquei bem juntinho a mim e em um abraço bem caloroso, ela me olhando firme dentro dos olhos, comecei dizendo, bem baixinho, que nós a amava muito e que se ela quisesse ir embora eu a deixaria partir. Ficamos assim, as duas, abraçadas, uma noite inteira de vigília, eu acariciando seu corpo, beijando a cabecinha e as orelhinhas de ursinho, cantando baixinho alguma música de ninar, rezando e chorando muito. Passaram os quatro dias e a Samy não morreu, aos poucos consegui que começasse a tomar água, depois caldo de galinha e com o dedo eu empurrava requeijão boca adentro, ela parou de vomitar e no final de sete dias veio o resultado dos novos exames e ela tinha começado a reagir. Aos poucos foi melhorando, já não desmaiava, eu levava-a no colo até a rua e abraçava seu corpo para que pudesse fazer xixi sem ficar tonta e assim com muito carinho e palavras de amor as taxas foram baixando e a Samy começou a se alimentar sozinha. É claro que a medicação foi dada rigorosamente no horário e não deixei de fazer o soro que a deixava hidratada e assim a minha Samy começou a adquirir peso e já conseguia latir novamente. Hoje eu sei que ela não vai ficar boa, pois os seus rins não funcionam como devia, sei que precisa de muito cuidado e carinho, mas a creatinina está em 1.8 e a uréia em 45 e isso é muito bom. A Samy tem dias maravilhosos em que brinca, corre, late e, outros que fica quietinha encolhida sem me perder de vista, ficou mais ciumenta do que de costume e até rosna de vez em quando, coisa que nunca fez no passado, mas a gente acha o máximo.